Mickey 17 é uma obra-prima cinematográfica que não só consolida Bong Joon-ho como um dos diretores mais visionários de nosso tempo, mas também se posiciona como um forte candidato a dominar a temporada de premiações. Após o sucesso estrondoso de “Parasita”, vencedor do Oscar de Melhor Filme, o cineasta sul-coreano se aventura no gênero da ficção científica, entregando uma narrativa profunda, provocativa e repleta de reflexões que merecem ser apreciadas na tela grande do cinema.

A trama se passa em um futuro distópico onde a Terra se tornou inabitável, levando a humanidade a buscar refúgio em planetas distantes. Nesse contexto, conhecemos Mickey Barnes, interpretado com brilhantismo por Robert Pattinson, um “descartável” em uma missão de colonização no planeta gelado Niflheim. Os “descartáveis” são clones humanos designados para tarefas perigosas, sendo constantemente recriados após cada morte. O filme ganha profundidade e tensão quando Mickey 17, dado como morto, retorna à base e encontra seu sucessor, Mickey 18, iniciando um conflito existencial sobre identidade, memória e o valor da vida.

Robert Pattinson entrega uma atuação impressionante e multifacetada, interpretando duas versões do mesmo personagem com uma sutileza que destaca sua capacidade de transitar entre a fragilidade emocional e a determinação inabalável. Sua performance está entre as melhores de sua carreira, sendo um forte concorrente para indicações em prêmios como o Oscar e o Globo de Ouro. O embate entre Mickey 17 e Mickey 18 não é apenas físico, mas também filosófico, levantando questões sobre o que nos torna verdadeiramente únicos.

Bong Joon-ho mesclar gêneros de maneira muito simples, e nesse longa utiliza a clonagem como uma metáfora poderosa para discutir a desumanização do trabalhador em sistemas capitalistas. A repetição incessante de vidas e mortes de Mickey simboliza a exploração laboral, onde indivíduos são tratados como recursos renováveis e descartáveis. Com um roteiro inteligente e provocativo, o filme equilibra momentos de tensão com críticas ácidas sobre a ganância corporativa e a indiferença política.

O elenco de apoio é igualmente notável. Mark Ruffalo entrega uma atuação marcante como Kenneth Marshall, o líder autoritário da missão de colonização, enquanto Toni Collette rouba cenas como Ylfa, sua esposa pragmática e calculista. Juntos, eles reforçam a crítica do filme à hipocrisia das elites e ao abuso de poder, acrescentando profundidade e complexidade à narrativa.

Visualmente, Mickey 17 é um espetáculo e a cinematografia captura a beleza austera do planeta Niflheim, contrastando a vastidão gelada com os ambientes claustrofóbicos da base humana. Cada enquadramento é cuidadosamente elaborado, criando uma atmosfera que equilibra a grandiosidade espacial com a sensação de isolamento e vulnerabilidade. A trilha sonora, por sua vez, complementa perfeitamente o tom do filme, alternando entre momentos de serenidade e de tensão crescente, amplificando o impacto emocional das cenas-chave.

Além de sua ambição visual, o filme é uma profunda reflexão sobre o valor da vida e os limites da ciência. Bong Joon-ho questiona ativamente se a reprodução infinita de um ser humano compromete sua alma ou sua essência, levando o público a se perguntar: o que nos torna verdadeiramente insubstituíveis? Essas questões filosóficas, aliadas à narrativa cativante, elevam Mickey 17 a um patamar de cinema que desafia as convenções e deixa marcas duradouras.

Mickey 17 não é apenas um filme para ser assistido, é uma experiência cinematográfica que merece ser vivida no cinema. A grandiosidade visual, a atuação magistral de Robert Pattinson e a direção visionária de Bong Joon-ho se combinam para criar uma obra que não apenas entretém, mas também provoca reflexões profundas. É um sério candidato a dominar as principais categorias de prêmios, e um filme que ficará marcado como um dos grandes momentos do cinema contemporâneo.

Se existe um filme que merece sua atenção e sua presença em uma sala de cinema este ano, esse filme é Mickey 17. Uma jornada emocional, filosófica e visualmente deslumbrante, que reafirma Bong Joon-ho como um dos mestres do cinema moderno e Robert Pattinson como um ator em seu auge.